terça-feira, 24 de junho de 2008

Não! Só quero liberdade!


Na sequência do texto de ontem, e do apelo interior que ando a sentir, publico o que só Fernando Pessoa consegue traduzir por palavras. Ninguém consegue fazer melhor. É absolutamente avassalador, e extraordinariamente fascinante, mergulhar na obra deste génio. Fica o convite ;)

"Não! Só quero a liberdade!
Amor, glória, dinheiro são prisões.
Bonitas salas? Bons estofos? Tapetes moles?

Ah, mas deixem-me sair para ir ter comigo.

Quero respirar o ar sozinho,
Não tenho pulsações em conjunto,
Não sinto em sociedade por quotas,
Não sou senão eu, não nasci senão quem sou, estou cheio de mim.

Onde quero dormir? No quintal...

Nada de paredes - só o grande entendimento-

Eu e o Universo,
E que sossego, que paz não ver antes de dormir o espectro do guarda-fato
Mas o grande esplendor, negro e fresco de todos os astros juntos,

O grande abismo infinito para cima

A pôr as brisas e bondades do alto na caveira tapada de carne que é a minha cara,

Onde só os olhos - outro céu - revelam o grande ser subjectivo.

Não quero! Dêem-me a liberdade!
Quero ser igual a mim mesmo.
Não me capem com ideias!
Não me vistam as camisas-de-forças das maneiras!
Não me façam elogiável ou inteligível!
Não me matem em vida!"


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