sexta-feira, 27 de junho de 2008

Regresso a Casa


É quando acorda com os olhos postos no mar que a alma lhe trás à memória a eternidade dos seres que respiram ao ritmo do amor. Levanta-se, colhe a fruta da árvore, senta-se na areia e saboreia a frescura daquela maçã. Passam quinze minutos, o tempo suficiente para sentir os paladares que brotam da terra, ao natural, tal como devem ser as emoções.


Caminha de cabeça erguida e sorri por saber que desconhece o chão que pisa. Faz-lhe bem a imprevisibilidade da vida, gosta de sentir que no final tudo fará sentido e que nada é vivido por acaso. Pega na prancha e corre em direcção ao início do mundo. A água fria acorda-a para as prioridades de uma existência que sabe poder escolher a toda a hora. Deixa-se levar pelo balanço das ondas do mar, que abraça todos os dias, e agradece a benção de estar viva. Observa o voo da gaivota, sente o sol queimar-lhe a pele, passa a língua pelos lábios cheios de sal...é assim que gosta de viver, presente em cada momento, atenta aos sinais que renovam energias universais.


O mantra que a acompanha tem como mestre o ruído emitido pela pássaro que todos os dias a acorda à mesma hora. Já aconteceu sentir-se tentada a guardá-lo, mas intui que é na liberdade que se encontra a essência das coisas. Ouvir o chilrar dá-lhe forças para acreditar que todos os sonhos são possíveis de alcançar, que querer muito é poder, que é na simplicidade dos dias que aprendemos a ser felizes. Ela sabe que a vida lhe traçou um plano que será cumprido com o rigor que o seu livre arbítrio desejar. Ao inspirar, recorda as palavras sábias de quem a educou – “Luta por aquilo em que acreditas, dedica-te a transformares os sonhos em realidade”. Ao expirar, escreve estas palavras que mais não são do que despejos genuínos de uma alma que apenas quer ser feliz.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Não! Só quero liberdade!


Na sequência do texto de ontem, e do apelo interior que ando a sentir, publico o que só Fernando Pessoa consegue traduzir por palavras. Ninguém consegue fazer melhor. É absolutamente avassalador, e extraordinariamente fascinante, mergulhar na obra deste génio. Fica o convite ;)

"Não! Só quero a liberdade!
Amor, glória, dinheiro são prisões.
Bonitas salas? Bons estofos? Tapetes moles?

Ah, mas deixem-me sair para ir ter comigo.

Quero respirar o ar sozinho,
Não tenho pulsações em conjunto,
Não sinto em sociedade por quotas,
Não sou senão eu, não nasci senão quem sou, estou cheio de mim.

Onde quero dormir? No quintal...

Nada de paredes - só o grande entendimento-

Eu e o Universo,
E que sossego, que paz não ver antes de dormir o espectro do guarda-fato
Mas o grande esplendor, negro e fresco de todos os astros juntos,

O grande abismo infinito para cima

A pôr as brisas e bondades do alto na caveira tapada de carne que é a minha cara,

Onde só os olhos - outro céu - revelam o grande ser subjectivo.

Não quero! Dêem-me a liberdade!
Quero ser igual a mim mesmo.
Não me capem com ideias!
Não me vistam as camisas-de-forças das maneiras!
Não me façam elogiável ou inteligível!
Não me matem em vida!"


segunda-feira, 23 de junho de 2008

Quando a resposta parece tardar


Hoje é o momento de chorar, libertar dores de um passado que muitas vezes carregamos como um fardo invisível que nos pesa a alma. Não somos Seres fruto de um qualquer acaso resultado da teimosia de um único espermatozóide, entre milhões que tentam a sua sorte. Fazemos parte de uma complexa rede de interligações geracionais que remota a séculos e séculos de hábitos, crenças, equívocos, comportamentos e muito medo injectado nas veias.
As nossas células têm gravadas na memória um amontoado de "não faças isso", "isso é pecado", "se não fores uma menina bonita o papão mau come-te o nariz", "não deves confiar em ninguém", "a Terra é o centro do Sistema Solar, e quem disser o contrário vai conhecer o inferno". Já para não falar das centenas de anos em que a Igreja, e instituições com o mesmo fim, manipularam civilizações através do medo.
Que espaço nos deixam para que cada um pense por si? Lembras-te de alguém te ter ensinado a questionar a ordem vigente? Não precisamos de recuar à tão apregoada era da inquisição, onde o Ser era punido por heresia. E o que significa esta palavra, que nos tempos de hoje se esconde atrás da máscara da democracia? "Heresia vem do grego haíresis e significa escolha. É heresia a escolha contrária ou diferente de um credo ou sistema religioso. A palavra pode referir-se também a qualquer "deturpação" de sistemas filosóficos instituídos, ideologias políticas, paradigmas científicos, movimentos artísticos, ou outros."
As pessoas iam para a fogueira (hoje em dia têm depressões e cancros), só porque faziam uma escolha diferente ao que algo ou alguém instituía como correcto. E aí de quem ousasse usar a bela da cabeçinha para elaborar outras possibilidades de ver o mundo. Galileu tem algumas coisinhas a dizer sobre isto...e todos nós sentimos literalmente na pele, e na saúde, as consequências de não ousarmos Ser. Sermos mais verdadeiros connosco, sermos seres individualizados e com capacidade de acrescentar algo de novo ao mundo.
Somos educados a não questionar. Diria mesmo que à pala desta filosofia muitos de nós nem sabe que sabe pensar. E por aqui seguimos uma vida inteira de "sim, eu faço isso só porque preciso de ser aprovado por ti e porque tenho medo que deixes de gostar de mim se eu não quiser estudar a treta que a professora de história me tenta impingir todos os dias."
Medo, medo e ainda mais medo. E como se combate este monstro que poucos ousam desmascarar? Li algures que um dia o medo bateu à porta, o amor abriu e ninguém estava lá.
Quando a resposta parece tardar, nós driblamos a herança que nos coube com a única coisa que é real: amor por nós, amor pelo mundo, amor pelo Cosmos. Amor, amor e ainda mais amor. Sejamos corajosos, porque nos cabe também honrar a herança divina que muitos seres nos deixaram. A escolha é nossa. :)

domingo, 15 de junho de 2008

Assim começa


Só porque hoje sinto começar uma nova etapa. Só porque me apeteceu celebrar a escolha de a cada dia ser mais fiel a mim própria e acolher as consequências desta decisão. Todos os dias são especiais, mas a noite de hoje reveste-se de um brilho comovedor. Talvez seja apenas o meu filtro a reflectir a intenção da minha alma. Esta noite foi efectivamente um momento muito especial.

Fica menos fácil escolher as palavras que possam espelhar a emoção que sinto. Como se de uma louca se tratasse, sigo em branco no eterno caminho de todas as possibilidades.

Deixa subitamente de haver "o tal dia", "amanhã é que vai ser", "quando ele olhar para mim serei mais feliz". O momento é Agora, sem as armadilhas da felicidade adiada. As promessas que o ego nos soletra ao ouvido são desmascaradas e o assumir de todos os riscos passa a ser o mantra.

Assim começa o que nunca começou...

:)